Conjunta, talvez, incandescência…

16 09 2010
Romero Brito

Romero Brito - Enamorados

Nós dois não sabemos amar. Eu com a minha inquietude latente, você com a sua liberdade insistente. Juntos em um talvez constante. Um sofrimento pra mim, uma aporrinhação pra você. Somos o que jamais alguém quis ou sonhou. E por este quase que nos envolve, digo que te quero, você responde sim com a boca e jamais com o coração. Eres vazio e eu cheio daquilo que não consigo te despertar. Ou será que consigo?

Entretanto somos tantos corações inquietos, que buscam apenas as sentimentalidades nulas na mãos de quem nos segrega. Não que sejamos loucos, apenas buscamos o “curry”, o tempero, a busca por algo que apimente nossas vidas e transforme essa canja do viver em uma deliciosa sopa que incremente nosso paladar e sacie a nossa fome … Fome de amor!!!
Eu cá do meu lado, imagino também o que sentes. Pele que não adere bocas que se unem e se sedimentam na ausência da saliva cálida! Incandescência!
Por Marocs Vieira e Lilian Cascalho




Safena – Elisa Lucinda

10 09 2010
Edvard Munch - Cupido

Edvard Munch - Cupido

Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até ao auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tintas, tijolo
comecem a obra!
Por amor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.

Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Peitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou eu de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões

Vassouras, rodos, águas, flanelas e ceras
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate

O homem que hoje me amar
encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.





Desabafo

7 09 2010

Melancholy - Edvard Munch

Melancholy - Edvard Munch

Meus desejos, suas manias e esquisitices. Juntos não temos nada. Foi o que disse na tarde fatidica em que destrui as esperanças que havia recostado sobre suas excêntricidades. E se nada é mesmo tão preenchedor, tão cumplice e tão vasto como tudo que dediquei a você, devo concordar. Não temos nada.

Antes de sair por esta porta que você sempre quis, não se esqueça de devolver meu coração, minha alegria carregada nos sorrisos que você roubou, e as cartas que não entreguei mas que estiveram explicitas em todo piscar de olhos  que eu lhe dediquei. Faça o favor de limpar a sala onde fica minha auto-estima e se der conserte-a,  já que agora ela não funciona por faltar um parafuso que você insisitiu em trocar sem a minha total concessão. Vá, vá sim, mas não leve nada. Cuspa nos cinzeiros, as palavras que eu lhe disse. E a confiança que depositei sobre suas mentiras, deixe sobre a mesa, precisarei horas mais tarde para engoli-las de volta. Devolva os caminhos que eu conheci ao seu lado, e o cuidado que eu tive para com a sua pessoa.

É eu ficarei bem, mesmo que aqui deitado pensando em te dizer umas boas verdades, revirando do tesão que você provocou mas não assumiu. Não, eu não quero nada seu. Mesmo que o nada seja tudo o que nós temos. Eu sigo com meus desejos, e hoje só quero que passes bem. Aproveite com gosto suas manias, excentricidades e esquisitices. E se um dia resolver todos os seus problemas, e quiser me assumir de verdade, não hesite pois por enquanto eu te direi: -Volte! Só não demore, porque amanhã posso já não querer mais.